domingo, 31 de janeiro de 2016

GMT +1 seria suficiente

            Fico pensando porque os pensamentos gritam tanto nas madrugadas, considerando o quanto elas são silenciosas. Já pesquisei algumas vezes pra qual fuso horário tenho que ir para conseguir ligar para as pessoas daqui as 3 da manhã sem ter que acordar ninguém. Mas aí me lembro que sou teimoso e fico lambendo minhas feridas sozinho quando me machuco. Ou corro pra ver o mar. Soluções diferentes mas é a mesma fuga. Já desisti de buscar apoio nos outros. E já nem acho isso ruim. Os meus me ajudam de outras formas. Quando me arrebento no chão me levanto sozinho e nem acho que isso seja ruim. A solidão é relativa e sempre aparece alguém desconhecido ou alguém que eu não esperava pra me colocar na estrada de novo.

         Tem uma frase escrita a lápis nas primeiras páginas de um livro que eu sempre folheio quando me sinto perdido: "Nunca fuja por medo." Que bom que eu achei isso suficientemente importante para anotar. E que bom que eu me conheço o suficiente para escrever numa das paredes da minha rota de fuga padrão.

       Tão patético como quem deixa a janela do quarto aberta antes de fazer uma tempestade. Como todas as vezes que pedi desculpas sabendo que não estava errado. Como essas madrugadas que fico tocando quase em silêncio sem ter ninguém pra acordar.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A um passo de uma caipira.


           Duas coisas me fazem ir no médico. Uma delas é febre. Depois de passar uma noite torto de febre, colei no plantão. Quando a mulher da triagem me perguntou porque eu estava lá, segurei o sorriso de quem teve uma boa ideia e, ainda parecendo um zumbi, respondi com ar pastoso. - "Olha, parecia uma gripe, mas agora acho até que é dengue". A enfermeira fez cara de assustada e eu sabia que tinha dado certo. Em exatos 12 minutos eu estava sentando na frente do médico. OK, era gripe e alergia num combo tipo aquelas lutas do mortal kombat. ele só receitou antialérgico quando eu disse que estava me sentindo no meio de uma ressaca de vinho ruim e de derby vermelho. Não lembro bem da conversa, ainda estava rengo. mas lembro do médico pedir encarecidamente pra mim não beber até melhorar.

          Ironicamente, tem um garrafão de cachaça do lado do fogão e cada vez que vou esquentar água pros chás ou pro chimarrão eu dou de cara com ele. Eu devia tirar ele dali. Ah, mas eu devia fazer tanta coisa.  

            Eu só lamento nisso tudo não conseguir lembrar direito das viagens que tive quando a febre não me deixou dormir. Eu acordei com uma joaninha - o inseto - na mão. E com uma moeda dentro da cueca. Pergunto-me que tipo de alucinação eu estava tendo pra chegar nisso.


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Acho que dessa vez teremos que ir mais longe.


          Meu sistema respiratório implodiu. Queria poder dizer que peguei uma gripe e que a alergia tem fundamento, mas sabemos que é mais embaixo. Sempre me encanta isso dos problemas da mente estourarem no corpo. Meu eu lírico tem uma amiga chamada Carmem e eles vivem conversando sobre se é o corpo que reflete na mente ou se é a mente que influencia o corpo. Pra mim e pro meu eu lírico a mente é o vento e o corpo é areia. Pra saber pra onde vai a areia, basta ver a direção do vento. E no momento sou um saco de areia molhada com olheiras e mancando. Porque consegui arrebentar o joelho na festa de sábado. 

           E lá fora tá o caos. Eu tinha esquecido que ser amigo de um casal tem um problema grave. Caso um dia os dois terminem você fica mais perdido que cego em tiroteio tentando diminuir vazios que são, irremediavelmente, gigantescos. Como se o processo de olhar para dentro de si mesmo não fosse perigosos o suficiente sem vazios e sombras latentes. ¿E como faz quando tu tem dois poços de racionalidade e só tem vontade de pegar eles no colo e mentir que tudo vai ficar bem...até acreditar na minha própria mentira.

          E aqui dentro tá foda, mas eu lembro do Charlie.


"Se algum dia você sentir alguma coisa muito forte,
não importa se boa ou ruim,
e quiser falar pra alguém, não fale.
Beba uma dose."

           Não tenho álcool suficiente, mas erva mate moída grossa e meus livros tem ajudado. Se bem que não consigo ler direito por causa dos olhos lacrimejando por causa da gripe nível praga do Egito. E isso me irrita a ponto de conversar em voz alta comigo mesmo. Falando bem baixinho pra me irritar mais ainda enquanto caminho que nem o House pela casa. Sem conseguir achar graça em nada. 

Mas tá tranquilo.. tá favorável. Foi só uma velha ferida que abriu de novo. Daqui a pouco eu costuro e remendo tudo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Senta que lá vem história

            Quinta, 22. Ligar pontos é uma arte. e a gente nunca sabe como vai ligar os pontos do futuro com os de hoje. Lá por 97~98 eu comprei um vinil do nirvana, com a capa do nevermind. Eu aprendi a tocar ouvindo nirvana. E por todos esses anos esse vinil ficou grudado na parede em cima do monitor do meu computador. Eu olhei pra ele todos os dias quando estive em casa. E fiquei feliz em encontrar uma pessoa para a qual eu poderia dar ele de presente. Não que ele não signifique nada pra mim. Pelo contrário. Ele significa muito. Sobre tudo que passei para chegar até aqui. E justamente por isso dei ele de presente. 

               Fiquei o dia inteiro formulando em palavras uma teoria muito boa sobre porque eu não confio nas pessoas. Coerente e bem embasada, eu achei que ela poderia explicar tudo. Mas claro que entre uma bohemia e outra desconstruíram ela com duas frases. Tudo bem, de volta ao planejamento.

               Sexta, 23. Acordar tomando whisky de mel com pastelina pareceu tão normal que eu nem me importei. Ainda mais num dia que teria show da Blackbirds. E quando a Rubia reconhece meu trabalho na zoeira, eu sei que estou no caminho certo. O dia teve o cheiro e a inércia da quinta e eu acabava sorrindo leve. 

            Show pra perder a voz. A catarse que eu tanto venero. Patrícia, minha cerveja honorária. E las cocotas niegras tocando pedaços da minha vida. A teoria da véspera não importava mais e eu sinto um certo orgulho por estar conseguindo aprender a me desapegar. Eu sorria e cantava as músicas enquanto uma ausência me incomodava. Mas ninguém percebeu. 

                Sábado, 24 Os excessos da véspera cobraram o preço na forma de uma ressaca avassaladora. ¿Da onde apareceu aquele maldito litro de whisky.? Era meio dia e eu sabia que só conseguiria melhorar até a noite se investisse num tratamento severo a base de chimarrão. 2 térmicas depois eu estava pronto para a festa do vagão. Com cara de zumbi mas ainda disposto. 

                Vi a lua nascendo quando saí de casa. E em algum lugar aqui dentro eu sabia que iria dar de cara com ela de novo quando chegasse em casa.

               No meio da festa um amigo me chama e nem chega a me pedir ajuda, e sem hesitar eu sai correndo pra casa dele. Há uma hierarquia no mundo e quando um barão precisa de mim, não há nem o que pensar. O aristos e o mundo poderiam esperar. Eu compensaria com muita tequila depois.

                   O problema é que compensei com tequila demaaaaaais. E a festa acabou com o dia claro, não sem antes tomar um sacolé. Não sem antes ser coagido a ir pra Paris. Facilmente coagido, diga-se de passagem.

                 Dia claro e vi a lua no oeste, perto do horizonte, no caminho de casa. Acabei lembrando de um verão em que eu aprendi a ver estrelas. E aquela mesma lua devia ter rido de mim quando eu discutia comigo mesmo dizendo que a constelação de peixes parecia mais com uma panela de pressão do que com qualquer outra coisa.

                  E, no final, acho que lembrei do passado não por ter visto a lua. mas sim porque empreitadas como essa me fazem lembrar De quem fui. Do que eu era. Do que eu sou. E porque, apesar da aparência vazia de 3 dias diretos de festa e trago, era só um disfarce enquanto eu ia me desconstruindo e construindo de novo. Tijolo por tijolo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Something


        Eu lembro com uma certa nostalgia da época em que eu me arrumava com antecedência para as formaturas. EU tinha o terno separado na véspera, junto com um nó de gravata feito com esmero e paciência. Era uma época em que eu até usava sapatos. Hoje fico rindo e discutindo comigo mesmo quando percebo que entro no chuveiro faltado 20 minutos pra hora marcada para a janta. Quando olho pro terno e vejo um all star junto dele. Quando faço um nó de gravata em 15 segundos e não me importo por ele estar horrivelmente mal feito. 

               E enquanto amarrava o cadarço do all star e me esforçava pra defender a gravata da pasta de dente, eu ia me analisando no espelho. Meu olhar de medo/eu consigo. Uma formatura de psicologia seria muito divertida - não teria como não ser. O medo me deixaria mais alerta e freiaria a arrogância de saber que eu não tinha com o que me preocupar. Em última instância, o sorriso de uma criança que sabe que vai aprontar. Meu melhor sorriso canalha.

       Formaturas continuam sendo uma mistura de ansiedade, atribulação, uma cerimonialista louca lutando contra uma mesa de malucos que não se importam com o protocolo, emoções e sentimentos sinceros transbordando. 

                Pausa. Uma tatuagem de uma música dos beatles nunca fez tanto sentido. Tira o sorriso canalha e entra o sorriso bobo. ¿Essa ironia conta pra quem.? Play de novo. Força tarefa pra acabar com a cerveja do lugar. Foi por muito pouco. Anteninhas e cerveja de 600ml usadas como long neck. ¿É sempre assim né.? 

                 E psicólogos são todos loucos. E ainda estou lembrando da mulher da yogurteira Toptherm me mandando sentir minhas meias e meus ombros. E usando o Dmitri como referência.  Acho que alguém colocou drogas na bebida da galera.


               Renata, tem uma expressão que eu adoro usar: "conhecer desde sempre". Eu não sei quando ficamos amigos, mas quando olho pra trás eu não conto os anos. Simplesmente vejo os momentos importantes e parece que você sempre esteve, de alguma forma, perto. Desde sempre. Eu te chamo de baronesa, mas isso não tem quase nada a ver com o fato de chamar o teu namorado de Barão. Teu título de nobreza vem de outra coisa. Tu tem meu respeito e minha admiração -  mesmo tu sempre insistindo pra que eu faça terapia.  Sei bem que tu enxerga minha loucura kamikaze com curiosidade. Da mesma maneira que eu fico rindo das tuas reações enquanto me analisa. às vezes me esforço pra te irritar porque tu fica encantadora quando está com braba.. Obrigado por me deixar fazer parte dessa tua conquista. 


                 

P.S. Eu não fiz nada na festa. Só dei água para quem tinha sede. 


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Um fardo a menos no pulso

           Tudo bem,  Virgílio,  agora eu entendi o que você quer me dizer. Demorei 15 dias mas finalmente entendi. Eu te dei uma alma e tu me deste um caminho. E depois do que passamos, não sei mais dizer quem teve a idéia de se arrebentar para servir de exemplo. Talvez seja aquilo de saber que certas feridas não doem mais. Não depois de tudo.

Tantas vezes eu estava pela metade e tu me carregaste. Permita-me retribuir. 

             Entre um silêncio e outro e a gente vai se entender. Eu não acredito que um dia possa haver paz, mas talvez consigamos harmonia.

Erva mate pura folha - me costurar de novo sempre tem o gosto de erva mate pura folha.

sábado, 9 de janeiro de 2016

O baixo é meu.

          ¿Quantos dias se passaram.? Quantos anos se passaram.? Olho os desenhos que carregamos e fico pensando porque eles estão ali. ¿São cicatrizes.? São troféus.? A dor que eu sinto é por causa deles ou eles funcionam como uma bandagem.? São símbolos da minha força ou uma triste lembrança de quando fui fraco.? Até que ponto soamos melhor por causa deles. 

             Eu li que chineses consertam vasilhas de metal barato que se partem usando ouro. Talvez eles tenham entendido há milênios que consertar algo que se quebrou é muito mais difícil do que construir algo novo. ¿E o que faz a gente decidir o que precisa ser consertado e o que deve ser jogado fora e substituído.? É o apego.? É a necessidade.? A utilidade.? O valor que criamos.? Lembro do Tomás dizendo que "if you have it but you can't fix it.. you don't owe it." Montar e desmontar um instrumento musical - pintá-lo e personalizá-lo - foi um jeito de consertar a mim mesmo.? Porque sei que tocar bem é tocar bem a vida. Tocar melhor para viver melhor. A professora resiliência foi fundo quando ensinou. Estudar acordes e escalas pra poder ir de um silêncio a outro. E ficar tão viciado nesse processo a ponto de acreditar que os silêncios falam mais do que as palavras. ¿Ou isso é apenas o medo de ser mal interpretado falando.? 

              E meu baixo continua me fazendo todas essas perguntas nessas tardes quentes de verão. Não duvido de nada mas repenso tudo. É solidão, mas há tantos aqui. Pro bem e pro mal meus desenhos provam isso. Carrego os meus onde quer que eu esteja. Não sei se soamos melhor, mas certamente soamos mais verdadeiros. 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A palavra que eu não lembrava era spes


Salve Regina

SALVE Regina, Mater misericordiae, vita, dulcedo, et spes nostra salve.
Ad te clamamus, exsules filii Hevae;
Ad te suspiramus, gementes et flentes in hac lacrimarum valle.
Eia ergo, advocata nostra illos tuos misericordes oculos ad nos converte.
Et Jesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exilium ostende.
O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria.


Ora pro nobis, sancta Dei Genitrix.
Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
Amen.


Salve Rainha

Salve, Rainha, mãe de misericórdia,
vida, doçura, esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando
neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus,
bendito fruto do vosso ventre,
Ó clemente, ó piedosa,
ó doce sempre Virgem Maria
Rogai por nós santa Mãe de Deus
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Há uma grande ironia no fato de eu esquecer justamente como se diz esperança em latim. 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Só mudamos para continuarmos iguais.

O mesmo Virgílio que foi batizado por causa da sua função: servir de guia. 





A mesma espada, agora reforjada. A minha dualidade expressa num nível muito além das palavras. A madeira que talhei tentando encontrar o que sou. E o equilíbrio do yin- yang forjado como metal e chanfrado fora de centro.. Porque o equilíbrio é sempre moldado com dificuldade. E um foto com contraste estourado. Porque meu sorriso fica melhor com contraste estourado.

O mesmo texto. 

"O errante vagueia pela terra a procura da resposta para suas preces mais tenebrosas

Ela está para além de qualquer esperança - mas, no entanto, a salvação ainda é possível.

Mas ele não anda só. Com ele, memórias substituídas por tudos e nadas, gravados na pedra e no silêncio

Na sua posse uma espada de enorme poder, apenas ultrapassado pela força do seu espírito. Seu nome não importa. Os seus esforços não se destinam a transformá-lo no que ele não é.

Há também uma donzela. Há quem acredite que a donzela foi um sacrifício necessário, pois o seu destino estava amaldiçoado. Mas apenas um acredita que o seu sacrifício era o destino amaldiçoado de que eles falavam. E o  que liga os destinos destes dois personagens é uma verdade que permanece perdida para todo o sempre. Estão unidos pelos seus destinos, e para todo o sempre permanecerão ligados.

Por que? O que faz um mortal tentar o impossível.? Dizem que as almas, uma vez perdidas, não podem ser reclamadas. Mas, com essa espada, talvez não seja impossível

Tudo lança uma sombra. Quando uma entidade existe para além do reino mortal, os homens pouco mais vêem além de sombras. Mas há uma espada antiga. Sem ela, não será possível encontrar aquilo que o errante deverá vencer. E se não for encontrado, não poderá ser destruído.

Ilumina-a e ela iluminar-te-a."


Luis José Favero Neto, mil vezes obrigado. Pelo Virgílio e por mim. Por iluminar a minha espada. Por servir de exemplo. Por tudo e por nada. Forjar e manter o meu tênue equilíbrio tem sido mais fácil depois que ficamos amigos. E passar a mudança de ciclo tocando contigo foi o melhor jeito de começar o ano.